segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Para G.


O fruto do amor estava no futuro,
Ao redor de tudo e acima da colina.
O ato de amor estava pulsando lentamente, lentamente.

A Guerra Santa estava se construindo lentamente
Heróis que seguem para a Grande Cruzada
Buscando recompensa dentro de si desde então, e então.

Não quero te perder, baby
Não quero que você se vá
Você sabe que eu nunca o perderei baby, use e abuse do meu amor.

Você sabe que eu sempre lhe ajudarei no que precisar
Embora não tenha sido possível ultimamente.
Eu disse que eu lhe ajudaria a me amar.
Aqui está meu telefone, me ligue algum dia.

O fruto do amor estava no futuro
Ao redor de tudo e acima da colina
O ato de amor estava pulsando lentamente, lentamente, lentamente."


Neil Young.

sábado, 27 de setembro de 2008


Na cidade antiga o homem brande o instrumento absurdo - lâmina fria contra o sol da tarde. Na praça antiga ela sonha com insetos, que lhe devoram a carne e os ouvidos, mortalmente feridos por este homem que lhe toma o mundo. O som distante evoca as tardes quentes da infância, onde um âmbar mágico, produzido pelo seu olhar através de um prato, dava nova moldura às coisas, tão reais e tão fugazes, que seu olhar distraído colecionava na memória. As cordas enchem o ar de uma fúria doce e melancólica, fazendo lembrar algumas palavras que ainda hoje ouvira, sobre o grito louco cheio de força improvável. Um idiota conta a história. O homem brande seu instrumento na cidade impossível, enquanto ela dorme, rosto colado à grama, um sol vermelho de se pôr lambendo a lua. Seus dedos são colar de pérola em seu pescoço, dedos que agora passeiam pela sua caixa-carne, de novo produzindo música onde antes havia silêncio e delírio. Ao longe um passáro grita. É o despertar, o acender do fogo. A tarde caí com a música nos ouvidos - ela caí com os dentes na grama. Na tarde finda o homem brande um instrumento indizível.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Alguém disse: tempo.


Pelo tempo de não sei quanto, enquanto dura a música de lentos passos, eu te tenho entre meus dedos - cabelo e boca e nuca e teu sexo exposto. Algo em mim te explora. E eu te sinto repousar em mim, dorme teu fogo opaco no meu peito. Um hálito pesado de fumo invade o tempo, recorta teu corpo contra um quadro escuro - meu escuro te encontra, te sorve, até que em ti explode a paixão derradeira. Algo em mim te esgota. Há milhões de espinhos nas pontas dos meus dedos, e voce os sente ferir tua carne até atingir o sangue, e por esta porta entrar no seu silêncio, na sua respiração pesada e torta. E eu te respiro fundo, o nariz colado ao teu, teu ar quente e úmido me gelando o sangue, meu calor te mantendo perto, e os pêlos que pelos braços se movem, num constante ondular de brisa, tecem a teia do meu amor invisível. Algo está em mim vazio. De novo a música constante de passos modula o timbre da sua voz que raro escuto, quando espreme em tua boca mais esta palavra cheia e cortante que me morde os lábios, e por eles me arrasta até o fim do teu corpo-homem. E meu corpo-fada é etéreo e opaco, e é escuro e denso, e é pesado e tinto, e é vermelho e teu. Algo em mim está sagrado.

sexta-feira, 16 de maio de 2008


Passa os dedos pelo contorno dos lábios enquanto observa o rosto num espelho. Uma massa rosa se mistura na superfície da boca formando uma figura às vezes pássaro, às vezes botão de flor. No fundo da cabeça os pensamentos postos a andar em círculos caraminholam uma idéia absurda: rasgar o som, como uma onda rasgando o mar. Não quer cantar. Quer despejar sussurros nos meus ouvidos. Cavalgam em mim sensações que ora não sei se boas ou más, ou quentes ou indelicadamente àsperas, que saltam de mim para você usando meu corpo - esse palavrório de vocábulos irregulares. E a expressão tensa das minhas sobrancelhas, que se erguem à medida que o contorno rosa da tua boca se estende e se expande, tomando agora todo o quarto e todo o mundo, assumem a forma de uma exclamação e de um pedido de trégua. Bandeira branca é este lençol sobre a cama, território laico onde a paz pode, por vezes, acontecer, num gemido rouco, num beijo-espasmo, num silêncio em guerra.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Time is on my side


Idéia

Errar em cor. Como se erra pelos caminhos mais tortos de escrever, e como imprimir a marca em cor se toda cor já foi usada? E como escapo do clichê da falta de assunto, quando a falta de assunto é, antes de tudo, falta de desejo - de desejo de vida, de sede de palavra, de anseio e observação-?
Ela observa da janela do carro um pássaro pequeno pousado na calçada, e a visão a transporta pra não sei que lugar de cheiros antigos, esquecidos nas dobras do vestido da avó. De novo sonhar com igrejas, com antigas pegadas. De novo pensar que o grão de areia que se é no mundo quer rodopiar em outras vidas, em todos os tempos...
O chiiiiiaaaaaadddddooo da cidade é um alfinete na caixa de coser. Um espaço imensurável de tempo separando a ponta espetada na lã, e o carro espetado no asfalto. O farol pede passagem. Verde alegre que camufla a idéia que se vinha tendo sobre (...)